01 maio 2006

O que os olhos não vêem o coração pressente


Passo os dias com os olhos num mundo e o coração noutro.
Como se fossem universos paralelos. Curiosamente, o mundo interior faz-me sentir muito mais. Cá fora acontece o trivial. Trabalho, tarefas de pai e entretenimento, muito entretenimento para ver se me distraio do turbilhão de sentimentos que me afoga.
Os dias passam e parece não acontecer nada ou pior, parece que tudo acontece duma forma estranhamente cíclica. Passo constantemente pelas mesmas situações, mas em dias diferentes, com pessoas diferentes ou não. Aparentemente muda o cenário, muda o calendário, muda a estação do ano mas o Inverno teima em não me deixar.
Uma amiga disse-me que quando olhava para mim, me via a chorar por dentro. Que perspicácia. O sorriso faz parte do mudo externo, já que não vem do meu intimo.
Como poderia vir se o meu intimo está afogado em mágoa. Lá no fundo de mim, lugar dos sonhos e das visões maravilhosas, está escuro agora…Como poderei ser eu interessante para alguém. Ninguém gosta de quem chora por dentro. Gostam de quem ri, de quem está alegre e contagia. Também eu gosto…
Assim isolo-me no meu mundo, fecho a porta para quem ninguém veja como sofro. Mas quando alguém mais interessado tenta olhar para mim encontra um olhar aberto mas uma porta fechada., e claro não entram, preferindo a distancia a descobrir o que está cá dentro.
E o que está cá dentro afinal?
Um mundo de visões, pressentimentos e emoções. Sonhos desfeitos e preconceitos.
Reais ou imaginários?
Muito reais para mim.
A vida muda todos os dias mas cá dentro o tempo não existe.
Vejo-te envolvida pelo sentimento, sob o sol ou ao luar.
Sinto as tuas palavras, como um eco que me atravessa, sem forma de pará-las.
Entristeço-me com os teus sonhos e momentos de prazer.
Com os risinhos inseguros enquanto enriqueces o teu saber.
Morro em mim por te sentir, acordado ou a dormir.
E quando nasço queria morrer outra vez porque ainda não foi desta vez que consegui viver sem te fazer sofrer.
Passam os dias, os meses e as estações do ano. E a primavera tarda a chegar para mim.
Tento despir-me das folhas secas. Mas em cada uma eu vejo uma oportunidade perdida.
Olho para o sol lá fora e peço aos céus para me tornarem menos humano. Menos falível.
O sol mergulha no mar, e uma Lua sorridente parece troçar de mim. Estarás tu a ver a Lua de Shiva sem pensar em mim. Eu não consigo. E por muito que me doa olho vezes sem conta. Na esperança de que seja este o ciclo que te traz de volta para mim.
Tudo isto, em mim, pulsando como a própria vida. Para deixar de sentir só se partir.
Mas quando tenho vontade de desistir lembro-me do melhor que me deste. E com o sorriso do meu filho a iluminar a escuridão. Eu fico sem força para partir. E vivo mais um dia, mais uns meses, mais umas estações. Sem viver verdadeiramente, pois estou dividido entre dois mundos que tardam em se encontrar.

4 comentários:

António disse...

Oi Hugo,

É bom v3er o pessoal do SwáSthya a escrever e a expressar-se!

Anónimo disse...

Olá Hugo

Andei a passar os olhos pelo teu blog e gostei do que li. Continua. Voltarei cá mais vezes para te ler. Ah e não te deixes ir abaixo. Mesmo quando há dias mais escuros ou as coisas não correm como queremos, há sempre um caminho que ainda não foi tentado. A vida é uma multitude infindável de possibilidades por explorar.

Abraço

Anónimo disse...

Parabéns!

Muito boa a poesiaaa!

é de uma emotividade tamanha!

Anónimo disse...

Não importa se são palavras copiadas ou apenas exploradas, importa a perspicarcia de quem a colocou aí, sentimentos sentimentos.... apenas sinais de vida dentro de ti !!! ainda sente, então ainda se manterá vivo dentro dos seus sonhos e desilusões!!!